Eu sei quem eu sou. Sei de onde eu vim e pra onde eu vou. Eu sou a noite passada em vão. Sou a insônia, o pesadelo, ou o sonho. Sou lembranças, medos, receios. Sou vontades, desejos. Sou inocência, mas também maldade. Sou o sorriso mais lindo da cidade; Sou o olhar verdadeiro. Sou a mentira, ou a verdade. Sou as lágrimas que escorrem dos meus olhos. Sou vergonha. Sou dor. Sou angustia. Maldade. Manipulação. Sou o meigo e o doce. Sou o ignorante, arrogante. Sou a tristeza, ou a felicidade. Sou o amor; talvez ódio. Não sou o que os outros pensam, sou o que eu quero. Sou a estranheza. A rebeldia. Sou a coragem, ou a covardia. Posso ser o sujeito, indeterminado, oculto, implícito. Sou paradoxo, metamínia, catacrese. Posso ser vírgula, ponto, ou reticências.

   Já tive amores que jurava ser pra sempre. Já tive amores falsos, os mais intensos e verdadeiros. Já fui inverno, hoje sou verão. Já chorei até que não houvesse mais força em mim, mas também já ri até minha barriga doer. Já briguei, já xinguei. Já disse o que não devia e me arrependi. Já menti pra evitar a dor de alguém, mas também já provoquei a dor com a verdade. Já fiz promessas, e também já as quebrei. Já fui dormir de madrugada por passar horas pensando em alguém. Já amei alguém que não me amava. Já fugi de amores, e os ignorei. Já fui traída, machucada, quebrada. Já fui forte, hoje me sinto fraca às vezes. Sinto como se não restassem forças em mim. Já tentei desistir, mas tive motivos para continuar. Já disse que iria embora e nunca voltaria apenas para saber se alguém me impediria. Já fui criança, já fui feliz. Já fui doce, agora amarga. Já fui inteira, hoje sou quebrada. Já fui amorosa, hoje sou fria. 

       Decidi não ser a princesinha do conto de fadas. Não quero ser a bruxa, nem a malvada. Não quero um final feliz, mas também não desejo os mais tristes de todos. Decidi tentar ser eu, uma parede transparente, um livro aberto. Dizer apenas o que eu quero, demonstrar apenas o que eu sinto. Sem medo. Decidi mudar minha vida. Mudar discos, viagens, lugares. E eu vou mudar quando eu quiser. Vou mudar a música que eu ouvir, o penteado que vou usar no cabelo, a cor do esmalte e até mesmo mudar as roupas. Vou ser a patricinha, a largada, a rebelde, a louca, mas serei eu.